domingo, 24 de janeiro de 2010

Tragédia em Agudo ( a ponte caiu)


O dia 5 de janeiro de 2010 amanheceu nublado, com cara feia. Havia chovido muito na segunda, dia 4. Previa-se a maior enchente desde 1941. E foi isso que aconteceu: na madrugada do dia 4 para o dia 5 a maioria dos moradores próximos ao Jacuí não dormiram. Com o rio subindo rapidamente tinha mais é que cuidar dos animais, implementos agrícolas e a própria vida.


Desde às 7 horas da manhã o repórter da Rádio Agudo, Márcio Nunes, com a unidade móvel, percorria algumas localidades do interior, relatando o que estava acontecendo. A ligação de Agudo a região da Quarta Colônia, pela Várzea do Agudo, na ERS-348, já não existia: as cabeceiras da ponte seca haviam sido levadas pela força das águas.


O dia já havia começado com esta notícia, teríamos muito trabalho naquele dia. Afinal, nosso trabalho é informar. Mas não sabíamos que o pior estava por vir.


Era exatamente 9h03min quando diretamente do Cerro Chato, próximo a ponte sobre o Jacuí na RSC-287, mais uma vez o Márcio Nunes entrava ao vivo na programação do Panorama. Mas desta vez era diferente: Márcio entrava desesperado, chorando e relatando: “a ponte caiu, tinha amigos nossos sobre ela, tem gente descendo pela água, tem gente sobre as árvores”.


A partir daquele momento, muita angustia, dor, sofrimento e tristeza. A desolação tomava conta da cidade de Agudo, não havia outro assunto.


Foi um horror. Pessoas amigas e conhecidas estavam sobre a ponte: 10 pessoas foram resgatadas com vida e cinco morreram, entre elas nosso querido vice-prefeito, e amigo, Hilberto Boeck.


Lavouras e estradas destruídas, vidas que se foram. O município nunca mais será o mesmo. A tragédia, as vidas e a maior enchente desde 1941, que invadiu casas, escolas e levou tudo o que veio pela frente, isto tudo comoveu toda a comunidade, desde amigos e familiares até aqueles que só conheciam essas pessoas de vista. O assunto principal das rodas de conversa continua sendo: a queda da ponte do Jacuí.


Qual agudense esquecerá os dias de peregrinação pela RSC-287 até a ponte, atrás de sobreviventes, de noticias daqueles que sumiram no meio das águas? Das incansáveis buscas do grupo de buscas e salvamentos de Porto Alegre, defesa civil e voluntários? Como esquecer o dia 8 de janeiro, quando a comunidade enterrou o nosso vice, Beto Boeck, querido e prestativo, que foi até a ponte fotografar a enchente, para anexar no relatório, e decretar situação de calamidade pública? E seu Ildo Dunke, sobrevivente, quebrou a perna, perdeu sua esposa Lori Dunke e a filha Denise? Na cidade de Restinga Seca o triste enterro de Renato Camargo? E a espera dolorosa do seu Arlindo dos Santos pelo filho Nelo dos Santos (namorado de Denise)?.


A dor e a angustia foi um pouco amenizada no dia 16 de janeiro, quando o corpo de Denise foi encontrado em uma lavoura de arroz. Terminava naquele dia a busca pelos desaparecidos.


Passar pelo Jacuí, ver o Jacuí, se divertir no Jacuí, certamente, nunca mais será como antes.

Um comentário:

  1. Concordo com você Marcia no que diz respeito as não falsas, mas imprecisas informações prestadas por grandes veículos de comunicação. Não podemos ser maniqueístas no sentido semiótico da palavra. Parabenizo o trabalho da rádio Agudo. Valorizo o trabalho feito no interior, minha primeira experiência havia sido numa cidade do interior também. É diferente e confesso mais divertido e instigante. Apenas questiono um detalhe. A imprensa que você questina, critica e reclama é tão ruim que você posta em seu blog uma foto da ponte sem o devido crédito? Mérito para o fotojornalista que fez a imagem né? Não sei se foi o Germano, o Lauro ou alguém de outra agência. Mas você sabe tanto quanto eu o valor do crédito, que gera a credibilidade, moeda de troca nessa profissão que escolhemos.

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