O dia 5 de janeiro de 2010 amanheceu nublado, com cara feia. Havia chovido muito na segunda, dia 4. Previa-se a maior enchente desde 1941. E foi isso que aconteceu: na madrugada do dia 4 para o dia 5 a maioria dos moradores próximos ao Jacuí não dormiram. Com o rio subindo rapidamente tinha mais é que cuidar dos animais, implementos agrícolas e a própria vida.
Desde às 7 horas da manhã o repórter da Rádio Agudo, Márcio Nunes, com a unidade móvel, percorria algumas localidades do interior, relatando o que estava acontecendo. A ligação de Agudo a região da Quarta Colônia, pela Várzea do Agudo, na ERS-348, já não existia: as cabeceiras da ponte seca haviam sido levadas pela força das águas.
O dia já havia começado com esta notícia, teríamos muito trabalho naquele dia. Afinal, nosso trabalho é informar. Mas não sabíamos que o pior estava por vir.
Era exatamente 9h03min quando diretamente do Cerro Chato, próximo a ponte sobre o Jacuí na RSC-287, mais uma vez o Márcio Nunes entrava ao vivo na programação do Panorama. Mas desta vez era diferente: Márcio entrava desesperado, chorando e relatando: “a ponte caiu, tinha amigos nossos sobre ela, tem gente descendo pela água, tem gente sobre as árvores”.
A partir daquele momento, muita angustia, dor, sofrimento e tristeza. A desolação tomava conta da cidade de Agudo, não havia outro assunto.
Foi um horror. Pessoas amigas e conhecidas estavam sobre a ponte: 10 pessoas foram resgatadas com vida e cinco morreram, entre elas nosso querido vice-prefeito, e amigo, Hilberto Boeck.
Lavouras e estradas destruídas, vidas que se foram. O município nunca mais será o mesmo. A tragédia, as vidas e a maior enchente desde 1941, que invadiu casas, escolas e levou tudo o que veio pela frente, isto tudo comoveu toda a comunidade, desde amigos e familiares até aqueles que só conheciam essas pessoas de vista. O assunto principal das rodas de conversa continua sendo: a queda da ponte do Jacuí.
Qual agudense esquecerá os dias de peregrinação pela RSC-287 até a ponte, atrás de sobreviventes, de noticias daqueles que sumiram no meio das águas? Das incansáveis buscas do grupo de buscas e salvamentos de Porto Alegre, defesa civil e voluntários? Como esquecer o dia 8 de janeiro, quando a comunidade enterrou o nosso vice, Beto Boeck, querido e prestativo, que foi até a ponte fotografar a enchente, para anexar no relatório, e decretar situação de calamidade pública? E seu Ildo Dunke, sobrevivente, quebrou a perna, perdeu sua esposa Lori Dunke e a filha Denise? Na cidade de Restinga Seca o triste enterro de Renato Camargo? E a espera dolorosa do seu Arlindo dos Santos pelo filho Nelo dos Santos (namorado de Denise)?.
A dor e a angustia foi um pouco amenizada no dia 16 de janeiro, quando o corpo de Denise foi encontrado em uma lavoura de arroz. Terminava naquele dia a busca pelos desaparecidos.
Passar pelo Jacuí, ver o Jacuí, se divertir no Jacuí, certamente, nunca mais será como antes.
Concordo com você Marcia no que diz respeito as não falsas, mas imprecisas informações prestadas por grandes veículos de comunicação. Não podemos ser maniqueístas no sentido semiótico da palavra. Parabenizo o trabalho da rádio Agudo. Valorizo o trabalho feito no interior, minha primeira experiência havia sido numa cidade do interior também. É diferente e confesso mais divertido e instigante. Apenas questiono um detalhe. A imprensa que você questina, critica e reclama é tão ruim que você posta em seu blog uma foto da ponte sem o devido crédito? Mérito para o fotojornalista que fez a imagem né? Não sei se foi o Germano, o Lauro ou alguém de outra agência. Mas você sabe tanto quanto eu o valor do crédito, que gera a credibilidade, moeda de troca nessa profissão que escolhemos.
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